sábado, 25 de maio de 2013

O TEMPO e o RELÓGIO

O Relógio


Não há nada que diferencie tanto a sociedade Ocidental de nossos dias das sociedades mais antigas da Europa e do Oriente do que o conceito de tempo. Tanto para os antigos gregos e chineses quanto para os nômades árabes ou para o peão mexicano de hoje, o tempo é representado pelos processos cíclicos da natureza, pela sucessão dos dias e das noites, pela passagem das estações. Os nômades e os fazendeiros costumavam medir – e ainda o fazem hoje – seu dia do amanhecer até o crepúsculo e os anos em termos de plantar e de colher, das folhas que caem e do gelo derretendo nos lagos e rios.
O homem do campo trabalhava em harmonia com os elementos, como um artesão, durante tanto tempo quanto julgasse necessário. O tempo era visto como um processo natural de mudanças e os homens não se preocupavam em medi-lo com exatidão. Por essa razão, civilizações que eram altamente desenvolvidas sob outros aspectos dispunham de meios bastante primitivos para medir o tempo: a ampulheta cheia que escorria, o relógio de sol inútil num dia sombrio, a vela ou a lâmpada onde o resto de óleo ou cera que permanecia sem queimar indicava as horas. Todos esses dispositivos forneciam medidas aproximadas de tempo e tornavam-se muitas vezes falhos pelas condições do clima ou pela inabilidade daqueles que os manipulavam. Em nenhum lugar do mundo antigo ou da Idade Média havia mais do que uma pequeníssima minoria de homens que se preocupassem realmente em medir o tempo em termos de exatidão matemática.
O homem ocidental civilizado, entretanto, vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas de uvas. E, pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria continuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina...
O relógio ofereceu os meios através do qual o tempo – algo tão indefinível que nenhuma filosofia conseguira ainda determinar sua natureza – passou a ser medido concretamente em termos mais palpáveis de espaço, dado pela circunstância do mostrador do relógio. O tempo, como duração, perdeu sua importância e os homens começaram a falar em extensões de tempo como se estivessem falando em metros de algodão. Assim o tempo, agora representado por símbolos matemáticos, passou a ser visto como uma mercadoria que podia ser comprada e vendida como qualquer outra mercadoria...
Agora são os movimentos do relógio que vão determinar o ritmo da vida do ser humano - os homens se tornaram escravos de uma ideia de tempo que eles mesmos criaram e são dominados por esse temor tal como aconteceu com Frankenstein. Numa sociedade livre e saudável, essa dominação do homem por máquinas por ele mesmo construídas chega a ser ridícula, mais ridícula até do que o domínio do homem pelo homem. A contagem do tempo deveria ser relegada à sua verdadeira função, como uma forma de referência e um meio para coordenar as atividades do ser humano, que voltaria a ter uma visão mais equilibrada da vida, já não mais dominada pelos regulamentos impostos pelo tempo e pela adoração ao relógio. A liberdade completa implica a libertação da ditadura das abstrações, tanto quanto a libertação do comando dos homens.
*grifos nossos   

George Woodcock em A Ditadura do Relógio

George Woodcock (1912/1995)

*

O Tempo

Tempo de Tempo e não Tempo

Deus Cronos


Tempo é tempo vivido
não há tempo passado
quando a vivência não era 

tempo  tempo futuro

quando a vivência não será

geradores do tempo
de um instante concebido
encompridaram à eternidade

dizer que não há tempo
é tão absurdo
quanto dizer que ele há

o tempo se desfaz
no tempo que se liberta
pela ausência do temporalizador
.

                               ...de um certo Anônimo

*

O Eterno

A Morte e o Amor

 

Só a morte põe fim seguro

Às dores e aflições da vida.

A vida, porém, temerosa,

Tudo faz para adiar esse encontro.               
 

É que a vida vê da morte

Apenas a mão sombria

E fecha os olhos à luzente taça 

Que a mesma morte lhe oferece.

 

Assim também foge do amor

O coração apaixonado,

Receoso de um dia morrer

Da mesma paixão por que vive.

 

Lá onde nasce o verdadeiro amor

Morre o “eu”, esse tenebroso déspota.

Tu o deixas expirar no negror da noite

E livre respiras à luz da manhã.

                 Poesia: A Morte e o Amor de Rumi               

Jalal ad-Din Muhammad RUMI

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