segunda-feira, 31 de agosto de 2015

EU

O EU

À nossa frente, estava sentado um homem de posição e autoridade. Parecia bem compenetrado disso, pois seu aspecto, suas maneiras e atitudes proclamavam a sua importância. Era um alto funcionário do Governo e os de sua roda se mostravam muito deferentes para com ele. Dizia, em alta voz, a um companheiro, ser monstruoso o importunarem
por causa de serviços oficiais secundários. Resmungava a propósito do procedimento dos seus subordinados, e os outros se mostravam apreensivos. Voávamos muito acima das nuvens, a uma altura de dezoito mil pés, e pelas frestas das nuvens via-se, lá embaixo o mar azul. Quando as nuvens se dissiparam um pouco, apareceram as montanhas cobertas de neve, as ilhas, e largas enseadas. Como estavam distantes e como eram belas as casas solitárias, e as pequenas aldeias! Um rio descia das montanhas para o mar. Passava por uma grande cidade, enfumaçada e escura, onde suas águas se poluíam; mas logo adiante, se mostravam de novo límpidas e rutilantes. Num dos assentos, um pouco mais longe, estava um oficial uniformizado, o peito coberto de fitas, arrogante e inacessível. Pertencia a uma classe à parte, existente no mundo inteiro.
Por que temos tanta ânsia de louvor, por que queremos ser tidos em grande conta, ser estimulados? Por que razão somos tão esnobes? Por que nos apegamos à exclusividade de nosso nome, posição, aquisições? É degradante o anonimato, é desairoso ser desconhecido? Por que seguimos os que são famosos, populares? Por que não nos contentamos em sermos nós mesmos? É por termos medo e vergonha de ser o que somos, que o nome, a posição e aquisição se tornam de tão súbita importância? Curioso como é forte o desejo de reconhecimento, de aplauso. Na excitação de uma batalha, praticamos feitos incríveis, pelos quais nos são prestadas grandes honras; tornamo-nos heróis, matando nosso semelhante. Mercê de privilégios, talentos ou capacidade e eficiência alcança-se uma posição nas proximidades do cume; entretanto, o cume não é o cume, pois sempre se quer mais, na embriaguez do sucesso. A nação ou os negócios estão personificados em vós mesmo; de vós dependem os acontecimentos: sois o poder. A religião organizada oferece posição, prestígio e honras; aí também sois alguém, separado, importante. Sois ainda importante, pois o representais e participais de suas responsabilidades, porque dais e outros recebem. Embora em nome deles, sois vós o agente. Podeis cingir uma tanga ou tomar o hábito de monge, mas sois vós, ainda, quem faz tal gesto, sois vós quem está renunciando.
De uma ou outra maneira, sutil ou grosseiramente, o eu é nutrido e sustentado. Afora suas atividades antissociais e nocivas, por que razão o eu tem de se manter a si mesmo? Vivendo, como vivemos, agitados e sofrendo, com prazeres passageiros, por que se apega o nosso eu às satisfações exteriores e interiores, às atividades que acarretam inevitavelmente sofrimentos e misérias? A sede de atividade positiva como oposto da negação faz-nos lutar para ser; a luta faz-nos sentir que estamos vivos, que nossa vida tem finalidade e progressivamente nos iremos aliviando das causas do conflito e do sofrimento. Sentimos que se essa nossa atividade se detivesse, não seríamos mais nada, estaríamos perdidos, e a vida não teria mais significação; e por isso nos mantemos em movimento, no conflito, na confusão, no antagonismo. Mas percebemos igualmente que há algo mais, um estado diferente, acima e além de toda essa aflição. Achamo-nos, destarte, numa batalha constante dentro de nós mesmos.
Quanto maior a ostentação exterior, maior a pobreza interior; mas a libertação dessa pobreza não é a tanga. A causa do vazio interior é o desejo de vir a ser; e tudo o que fizermos nunca será capaz de encher esse vazio. Podeis fugir dele de maneira rudimentar ou requintada; mas ele continuará tão perto de vós como vossa sombra. Podeis não desejar perscrutar este vazio; ele, todavia, está sempre presente. Os atavios e renúncias com que o eu se cobre nunca esconderão a pobreza interior. Com sua atividades interiores e exteriores, procura o eu enriquecimento, que ele chama experiência ou por outro nome, conforme sua conveniência e satisfação. O eu não suporta o anonimato; poderá cobrir-se com um manto novo, tomar um nome diferente, mas a identidade é a sua própria essência. Esse processo identificador impede o percebimento da sua natureza. O processo cumulativo da identificação forma, pouco a pouco, o eu, positiva ou negativamente; e a atividade deste é sempre um auto-enclausuramento, por mais ampla que seja a clausura. Todo esforço do eu no sentido de ser ou não ser é um movimento para longe do que é. Separado do seu nome, seus atributos, idiossincrasias e posses, que é o eu? É o medo de ser nada que impele o eu à atividade; mas ele é nada, um vazio.

Se formos capazes de enfrentar esse vazio, em ficar em companhia daquela solidão dolorosa, então o medo desaparece completamente e ocorre uma transformação fundamental. Para que isso possa acontecer, precisamos conhecer aquele estado de nada, o qual não é possível se existe experimentador. Se existe algum desejo de conhecer aquele vazio, com o fim de dominá-lo, ultrapassá-lo, transcende-lo, tal experiência não poderá verificar-se, pois o eu, como entidade, continua. Se o experimentador tem uma experiência, não há mais o estado de conhecer, viver. O conhecer o que é, sem lhe dar nome, é que traz a nossa libertação do que é.
      Jiddu Krishnamurti em Comentários Sobre o Viver - Editora Cultrix 
Jiddu Krishnamurti (1895/1986)
*

EU Sou Tudo


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Paragem do Tempo

Paragem do Tempo

 


Embolada do Tempo
Alceu Valença



Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada


Eu marco o tempo
Na base da embolada
Da rima bem ritmada
Do pandeiro e do ganzá

Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada

O tempo em si
Não tem fim
Não tem começo
 
Mesmo pensado ao avesso
Não se pode mensurar












Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada

  
Buraco negro
A existência do nada
Noves fora, nada, nada
Por isso nos causa medo

Tempo é segredo
Senhor de rugas e marcas
E das horas abstratas
Quando paro pra pensar

Você quer parar o tempo
E o tempo não tem parada
Você quer parar o tempo
O tempo não tem parada


terça-feira, 25 de agosto de 2015

MANTRA

E Acordará no Mesmo Lugar, no Mesmo Lar, no Mesmo Quintal

Vídeo tomado emprestado do canal Nando Reis, no link abaixo:
Mantra
Nando Reis
Quando não tiver mais nada
Nem chão, nem escada
Escudo ou espada
O seu coração
Acordará

Quando estiver com tudo
Lã, cetim, veludo
Espada e escudo
Sua consciência
Adormecerá

E acordará no mesmo lugar
Do ar até o arterial
No mesmo lar
No mesmo quintal
Da alma ao corpo material

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna
Hare Hare
Hare Rama
Hare Rama
Rama Rama
Hare Hare

Quando não se tem mais nada
Não se perde nada
Escudo ou espada
Pode ser o que se for
Livre do temor

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna
Hare Hare
Hare Rama
Hare Rama
Rama Rama
Hare Hare

Quando se acabou com tudo
Espada e escudo
Forma e conteúdo
Já então agora dá
Para dar amor

Amor dará e receberá
Do ar, pulmão
Da lágrima, sal
Amor dará e receberá
Da luz, visão
Do tempo espiral

Amor dará e receberá
Do braço, mão
Da boca, vogal
Amor dará e receberá
Da morte
O seu dia natal

Adeus Dor
Adeus Dor
Adeus Dor
Adeus Dor

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna
Hare Hare
Hare Rama
Hare Rama
Rama Rama
Hare Hare

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Cirrose, Câncer do Fígado e Silimarina

Silimarina

A Silimarina, o que é, suas propriedades e benefícios, é o tema dessa matéria intitulada Cirrose do Fígado & Hepatocarcinoma, que encontrei na web há dez ou doze anos. A autoria é de um professor e doutor de uma renomada faculdade londrina. Decidi republicá-la no blog, porque não a encontrei mais quando a procurei e, por sorte, a tinha impresso e arquivado na época. A silimarina, o seu poder medicinal regenerador e curador dos males do fígado, ainda não havia tornado-se tão popular como atualmente. Por essa razão, aqui está o artigo, praticamente em sua íntegra, excetuando-se apenas alguns detalhes muito técnicos, próprios aos médicos, evitando que a sua leitura torne-se muito longa e enfadonha ao leitor leigo ao qual é direcionado.
    Cirrose do Fígado & Hepatocarcinoma
Cirrose é definida como um processo de cicatrização do fígado onde as células são substituídas ou destruídas, e perdem as condições de funcionar.
Hepatocarcinoma (ou carcinoma hepatocelular – CHC) é o câncer primário do fígado, ou seja, o câncer derivado das principais células do fígado – os hepatócitos. Como os demais cânceres, surge quando há uma mutação nos genes de uma célula que a faz se multiplicar desordenadamente. Essa mutação pode ser causada por algum agente externo (como o vírus da hepatite B) ou pelo excesso de multiplicações das células (como a regeneração crônica nas hepatites e na cirrose), o que aumenta o risco de surgimento de erros na duplicação dos genes. O Hepatocarcinoma, como seu ¨irmão¨ colangiocarcinoma, é caracteristicamente agressivo, com altíssimo índice de óbito (99%) após o início dos sintomas (icterícia, ascite e outros). Se for detectado apenas na fase sintomática, o paciente tem expectativa de vida média inferior a um mês se não for realizado nenhum tratamento, sendo que nessa fase os tratamentos disponíveis são limitados e pouco eficazes. A quimioterapia e a radioterapia são inúteis.
Causas comuns de cirrose e hepatocarcinoma em todo o mundo são os vírus da Hepatite B e Hepatite C.
Quando o fígado não funciona adequadamente, os pacientes começam a manifestar algumas
alterações nos exames de sangue.
Alterações:
- Queda da coagulação do sangue – ocorre um aumento prolongado no tempo de protrombina (um elemento proteico da coagulação sanguínea) - também chamado de um TAP (Tempo de Atividade da Protrombina) - este teste também já está definido como um ¨RNI¨ (Razão Normalizada Internacional) ou INR. O INR é tanto maior quanto for o sofrimento do fígado.
- Aumento da bilirrubina (pigmento amarelo da bile) – superior a 2,0 mg/dl é uma preocupação;
- Queda da albumina – menos de 3,5 mg/dl é uma preocupação;
- Queda do colesterol – menos de 100 mg/l é uma preocupação;
- Queda das plaquetas – menos de 100.000 é uma preocupação (As plaquetas são células envolvidas na coagulação sanguínea).

HEPATOCARCINOMA

Os principais sintomas são:
-Inchaço nos pés e nas mãos;
-Inchaço abdominal (ascite);
-Confusão mental, voz pastosa, enrolada (encefalopatia);
-Perda progressiva de memória, confusão, sonolência e desorientação;
-Dificuldade em dormir durante a noite e aumento de sono durante o dia;
-Vômitos de sangue ou apenas náuseas causadas pelas varizes esofágicas;
-Evacuações com sangue escuro ou claro;
-Icterícia – olhos amarelos /ou cor da pele amarelada;
-Tremores nas mãos (flapping);
-Enegrecimento sanguíneo;
-Perda muscular (emagrecimento dos membros superiores e inferiores com aumento do volume Abdominal);
-Micção diminuída;
-Coma.
Se você tiver cirrose, existe um acentuado aumento do risco de câncer hepático ou da vesícula. É importante que seu médico solicite exames de triagem para nódulos no fígado.
Algumas orientações gerais:
-Dieta livre de álcool;
-A dieta deve ser de baixo teor de sódio (sal). Cinco pequenas porções por dia fracionadas com vegetais, fibras e poucos carboidratos complexos, evitando gorduras. Prefira alimentos grelhados ou assados;
-Evitar certos medicamentos. Os pacientes com cirrose não devem fazer uso de anti-inflamatórios Não-Esteroides como Ibuprofeno, diclofenacos de sódio e potássico, e aspirina. E de maneira alguma usar dipirona sódica ou brometo de N-butilescopolamina.
O Tylenol (paracetamol) é uma droga segura nesse caso, se você fizer uso conforma orientação médica: até quatro comprimidos por dia, tanto na febre quanto na dor.
_Quais as principais plantas ou alimentos para o tratamento da cirrose e Hepatocarcinoma?
Muita aveia e maçãs devem ser ingeridas, antes de tudo. O fitoterápico Silimarina, proveniente do cardo-mariano, é imprescindível. A curcumina é um alimento medicinal que pode mudar positivamente todo o quadro. Alcachofra, quebra-pedra e o boldo chileno também podem ser muito úteis. A tanchagem é utilizada em casos de muita perda de sangue nas fezes por ser hemostática.
  
Silimarina
Hepatoprotetor natural
Cardo mariano

_Nome comum: Silimarina
_Denominação científica: Cardus mariana - Cardus marianus - Cardo mariano
_Aspecto: Insolúvel em água; solúvel em acetona e etanol;
_Parte usada: semente.
Atividade:
Silimarina é o princípio extraído do fruto do Cardus mariana. Seu principal componente é o flavonoide silibinina, mas contém outros componentes como isosilibinina, silidianina e silicristina. Silimarina é indicada nos distúrbios digestivos funcionais que ocorrem nas hepatopatias. Ela atua de forma benéfica como adjuvante no tratamento das doenças hepáticas inflamatórias crônicas. Cita-se cirrose hepática e lesões hepatotóxicas.  O efeito terapêutico da Silimarina é baseado em sua influência sobre a permeabilidade e a função excretora das células hepáticas, bem como na sua eficiência metabólica É um potente estabilizador das membranas dos hepatócitos, conservando a sua integridade e a função fisiológica do fígado. Estudos demonstram que a Silimarina protege as células do fígado da influência nociva de substâncias endógenas e exógenas. Também demonstram, em animais, acelerar a regeneração do parênquima hepático pelo aumento da síntese de RNA do fígado. Sua associação com DL-metionina é capaz de reduzir ou impedir a infiltração gordurosa e a cirrose no fígado. Silimarina promove a rápida melhora dos sintomas clínicos relacionados a esses distúrbios, incluindo cefaleia, anorexia, distúrbios digestivos, sensação de peso epigástrico, sintomatologia cirrótica, etc.
Concentração usual:
Conforme a gravidade dos sintomas, recomenda-se 70mg/1 a 2 cápsulas 3 vezes ao dia, após as refeições, durante 5 a 6 semanas. Ou 140mg/1 a 3 cápsulas ao dia, após as refeições, durante 5 a 6 semanas. Em suspensões contendo 10mg/ml, crianças de 10 a 15kg devem administrar 2,5ml/3 vezes ao dia. Crianças de 15 a 30kg, 5ml/3 vezes ao dia. Adolescentes devem ingerir 7,5ml/3 vezes ao dia, e adultos, 10ml/3 vezes ao dia. Nos casos mais graves, e a critério médico, essas doses podem ser aumentadas.
Nota: A Silimarina se encontra diluída, portanto é necessário fazer conversão. Respeitar o fator de diluição especificado no laudo.
Reações adversas:
Raros casos de gastralgias, episódios diarreicos e excepcionalmente, reações alérgicas cutâneas.
Observações:
Até o momento não foram relatados casos de interação medicamentosa com o uso do produto. Na eventualidade de ingestão acidental de doses muito acima das preconizadas, recomenda-se adotar as medidas habituais de controle das funções vitais. Esse produto não deve ser usado por pacientes hipersensíveis ao componente durante a gravidez.

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O objetivo deste post, e outros de conteúdo semelhante, é o de divulgar informações e democratizar o conhecimento. Nunca deixe de consultar o seu médico.
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Todo o conteúdo deste post, assim como o de todo o blog, está disponível, e a sua reprodução parcial, ou integral, está autorizada, desde que mantida a integridade das informações e citada a fonte.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Salão do Encontro

A Arte de Educar

 A Utopia é Possível  

¨Porque foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te digo o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estávamos cegos, cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem.¨
Saramago

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O mundo virtual das várias mídias, conformado e amoldado com o artifício da mais alta tecnologia, tem consolidado uma realidade global comum, não importando se quem a visualiza é um pequeno índio descalço nas margens do rio Amazonas, ou um garotinho em sua casa com lareira nos rincões mais gelados do Rio Grande do Sul. Todos nós, salvo algumas raras exceções, desde a popularização da televisão em meados dos anos 1960, tanto aqui no Brasil como nos mais esquecidos recantos do planeta, consumimos basicamente as mesmas informações e cultivamos os mesmos ideais e valores como se estes fossem os únicos possíveis.
Para o que muitos chamam hoje de a era da Sociedade do Espetáculo, o bem maior, o supremo valor é a imagem, e por consequência, é o status, o sucesso pessoal, o destacar-se e o sobressair-se. Até aqui nada de novo e exclusivo do homem contemporâneo. O mesmo comportamento simiesco é observado nos animais, nas crianças pequenas, nos adolescentes e nos homens adultos por razões muito semelhantes.
Em um fragmento de uma das suas mais lindas poesias, diz o poeta místico Jalal ad-Din Muhammad Rumi: ¨Morri como mineral e tornei-me planta. Morri como planta e renasci animal. Morri como animal e tornei-me homem... Ainda outra vez morrerei, como homem, para elevar-me com os anjos abençoados...¨
A evolução do mineral para a planta, desta para o animal, e por fim, até chegar ao homem ocorre espontaneamente segundo a natureza e os ditames do Isso. O salto seguinte, aquele que conduz para o além do homem já não acontece da mesma maneira, não se realiza por si só sem a vontade e a consciência próprias e inerentes ao homem. Este passo além, em direção ao desconhecido, por milênios emperrado, trilha um caminho que ultrapassa e transcende todas as características das etapas evolutivas anteriores.
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Um senhor cego bate à porta de uma senhora pedindo ajuda.
¨Fique por aqui e trabalhe conosco.¨
¨Como vai me aceitar se sou cego e não sei fazer nada?¨
¨Entre e iremos descobrir juntos como você pode contribuir.¨
Este é um pequeno fragmento do diálogo entre um deficiente visual e uma visionária.
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¨É muito bonito a gente pegar um menino sem perspectiva, que os próprios pais não acreditam nele, e transformá-lo numa pessoa boa. Agora, a minha preocupação é dar para eles só o melhor, o mais bonito; e não ficar satisfeita com qualquer coisa, eu não gosto disso. Eu gosto é do mais belo.¨
Noemi Gontijo, a visionária
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  Noemi Macedo Gontijo
Metamorfose é a expressão que melhor define o trabalho realizado no Salão do Encontro. Tal qual um autêntico alquimista, extrair o sutil do grosseiro e transmutar objetos e pessoas através da arte e da educação é o ofício a que a artesã e professora Noemi Macedo Gontijo se dedica de corpo e alma e em tempo integral há mais de quarenta anos. Decidida a oferecer muito mais do que simplesmente alimentação aos carentes, Dona Noemi, juntamente com seu amigo, o Frei Stanislau Bartold, dá início a um projeto ambicioso que proporciona formação, autonomia e dignidade às pessoas com necessidades especiais, às crianças, adolescentes, adultos e idosos em um ambiente criativo, alegre e fraterno em meio à natureza.


Em 1970, em Betim, cidade muito próxima de BH, começa a tomar forma o Salão do Encontro a partir de um pequeno galpão onde se distribuía sopa às pessoas necessitadas. Este foi somente o princípio do sonho de alguém que acreditava e apostava no potencial inato de cada um para o crescimento e auto-realização.

O Salão do Encontro é uma organização de direito privado e sem fins lucrativos que promove a educação, a capacitação para o mercado de trabalho, a inserção social, a sustentabilidade e a cidadania através da arte. Prioriza a cultura e o artesanato regional mineiro, utilizando matéria prima natural e reciclada. As crianças aprendem brincando desde bem pequeninas a trabalhar a terra e extrair as tintas, a fabricar os próprios pincéis, a manipular a argila e a madeira, a fiar e a tecer; cozinham, lavam e passam roupas; são carpinteiros, palhaços, malabaristas, músicos; e são crianças. 
A atenção com o espaço acolhedor e afetuoso, o cuidado no trato com o outro, o estímulo ao companheirismo e à camaradagem; e a preocupação com o belo fazem do Salão do Encontro muito mais do que um centro de amparo aos mais necessitados. A instituição concretizada por Noemi Gontijo forma homens e mulheres de bem.


¨ Eu sou Feliz no Salão do Encontro ¨
Izabella Gonçalves Costa


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Iniciativas nobres como a do Salão do Encontro teimam em negar a realidade mantida no patamar dos baixos instintos (diriam alguns, na frequência dos três chacras basais), desencantada, entorpecedora e nefasta imposta pelos meios de comunicação de massa. Ali, ou aqui bem pertinho, mas muito longe no tempo e no espaço de tantos conflitos, corrupção, violência, individualismo, celebridades, competição, indiferença e guerras, insiste entre lonas e árvores um espaço onde a vida eleva-se acima do diafragma e re-encanta o mundo.
        
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Aqui um vídeo no youtube em homenagem a Noemi Gontijo e a todos do Salão.
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