Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então – reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter-se tornado ridículas.
Não
há nada que diferencie tanto a sociedade Ocidental de nossos dias das
sociedades mais antigas da Europa e do Oriente do que o conceito de tempo.
Tanto para os antigos gregos e chineses quanto para os nômades árabes ou para o
peão mexicano de hoje, o tempo é representado pelos processos cíclicos da
natureza, pela sucessão dos dias e das noites, pela passagem das estações. Os nômades e os fazendeiros costumavam medir – e ainda o fazem hoje – seu dia do amanhecer até o crepúsculo e os anos em termos de plantar e de colher, das
folhas que caem e do gelo derretendo nos lagos e rios.
O homem do campo
trabalhava em harmonia com os elementos, como um artesão, durante tanto tempo
quanto julgasse necessário. O tempo era visto como um processo natural de
mudanças e os homens não se preocupavam em medi-lo com exatidão. Por essa
razão, civilizações que eram altamente desenvolvidas sob outros aspectos
dispunham de meios bastante primitivos para medir o tempo: a ampulheta cheia
que escorria, o relógio de sol inútil num dia sombrio, a vela ou a lâmpada onde
o resto de óleo ou cera que permanecia sem queimar indicava as horas. Todos
esses dispositivos forneciam medidas aproximadas de tempo e tornavam-se muitas
vezes falhos pelas condições do clima ou pela inabilidade daqueles que os
manipulavam. Em nenhum lugar do mundo antigo ou da Idade Média havia mais do
que uma pequeníssima minoria de homens que se preocupassem realmente em medir o
tempo em termos de exatidão matemática.
O
homem ocidental civilizado, entretanto, vive num mundo que gira de acordo com
os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que
vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o
tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser
comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas de uvas. E,
pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com
exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria
continuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de
ditadura mecânica na vida do homem
moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que
qualquer outra máquina...
O
relógio ofereceu os meios através do qual o tempo – algo tão indefinível que
nenhuma filosofia conseguira ainda determinar sua natureza – passou a ser
medido concretamente em termos mais palpáveis de espaço, dado pela
circunstância do mostrador do relógio. O tempo, como duração, perdeu sua
importância e os homens começaram a falar em extensões de tempo como se
estivessem falando em metros de algodão. Assim o tempo, agora representado por símbolos matemáticos, passou a ser visto
como uma mercadoria que podia ser comprada e vendida como qualquer outra mercadoria...
Agora são os movimentos do relógio que vão determinar o ritmo
da vida do ser humano - os homens se tornaram escravos de uma ideia de tempo
que eles mesmos criaram e são dominados por esse temor tal como aconteceu com
Frankenstein. Numa sociedade livre e saudável, essa dominação do homem por
máquinas por ele mesmo construídas chega a ser ridícula, mais ridícula até do
que o domínio do homem pelo homem. A contagem do tempo deveria ser relegada à
sua verdadeira função, como uma forma
de referência e um meio para coordenar as atividades do ser humano, que voltaria a
ter uma visão mais equilibrada da vida, já não mais dominada pelos regulamentos
impostos pelo tempo e pela adoração ao relógio. A liberdade completa implica a
libertação da ditadura das abstrações,
tanto quanto a libertação do comando dos homens. *grifos nossos
George Woodcock em A Ditadura do Relógio
George Woodcock (1912/1995)
*
O Tempo
Tempo
de Tempo e não Tempo
Deus Cronos
Tempo é tempo vivido
não há tempo passado
quando a vivência não era
tempo tempo futuro
quando a vivência não será
geradores do tempo
de um instante concebido
encompridaram à eternidade
dizer que não há tempo
é tão absurdo
quanto dizer que ele há
o tempo se desfaz
no tempo que se liberta
pela ausência do temporalizador.
Haverá na próxima geração, ou talvez um pouco mais tarde, um método farmacológico um método de fazer as pessoas amarem sua servidão e produzir ditaduras sem lágrimas, por assim dizer. Produzir uma espécie de campo de concentração indolor para sociedades inteiras, para que as pessoas na verdade tenham suas liberdades suprimidas, mas gostem, porque elas serão distraídas de qualquer desejo de se rebelar - pela propaganda, ou pela lavagem cerebral, ou pela lavagem cerebral aumentada por métodos farmacológicos. Esta parece ser a revolução final.
O termo Ubuntu é uma abreviação da expressão, ou do ditado, de origem africana: ngobantu ngumuntu ngabantu. O Ubuntu é a expressão de uma ética e de uma filosofia que valoriza o vínculo social, a comunidade, a cooperação, a solidariedade, a fraternidade e um compromisso de lealdade para com o outro, acima do interesse individual.
Na falta de uma tradução exata e literal, algumas aproximações são sugeridas, como: Eu sou pelo que nós somos; Eu só existo porque nós existimos; Somos todos um; Humanidade para com todos; Sem você eu não sou; Em você torno-me humano... além de várias outras possíveis.
Nas palavras do premiado Nobel da Paz, Arcebispo Desmond Tutu: ¨Uma das coisas em nosso país é o Ubuntu – a essência do ser humano. Ubuntu fala principalmente sobre o fato de que você não pode existir como ser humano de forma isolada. Ela fala sobre nossa interconexão. Você não pode ser humano sozinho, e quando você tem essa qualidade – Ubuntu – você é conhecido por sua generosidade. Nós pensamos de nós mesmos muito frequentemente, apenas, como indivíduos, separados uns dos outros, enquanto quando você está conectado, o que você faz afeta o mundo inteiro. Aquilo que você faz bem, se espalha, é para toda a humanidade... Uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível aos outros, apóia os outros, não se sente ameaçada quando os outros são bons e capazes. Ele ou ela, tem uma auto-confiança que vem de saber que ele ou ela pertence a um todo maior, e é diminuído quando os outros são humilhados ou diminuídos, quando outros são torturados ou oprimidos.¨
bodhisattva
Há uma história que ilustra muito bem o que é esta filosofia. Um breve resumo: Na falta melhor do que fazer, um antropólogo enquanto aguardava um transporte que o levasse de volta para casa, teve a grande ideia de comprar alguns doces e fazer uma experiência com as crianças da tribo que estudava. Disse a elas que a primeira que chegasse onde se encontrava as guloseimas seria a dona de tudo, e poderia saborear sozinha o conteúdo da cesta que havia deixado sob uma árvore não muito distante dali. Para sua surpresa, as crianças correram juntas de mãos dadas até onde se encontrava o balaio e compartilharam felizes tudo o que encontraram nela. Não entendendo muito bem o acontecido, perguntou:_ Por que vocês correram juntas, de mãos dadas, se aquela que tivesse chegado antes poderia ter tudo só para si mesma? As crianças olharam espantadas para ele e disseram: _Ubuntu, senhor. Como é que apenas um de nós poderia ficar feliz se todos os outros ficassem tristes?
UBUNTU para TODOS aqui dos outros cantos do mundo que sofremos da ausência desse contato estreito com o próximo. Daí, serem a solidão e a depressão as nossas companheiras inseparáveis! Que esses ventos vindos da Mãe África elevem nossos espíritos e nos encantem com a sua inocência!
Quase
nada do que se acredita sobre Darwin é rigorosamente verdade. A
teoria da evolução - segundo a qual todas as espécies descendem,
no máximo, de alguns poucos ancestrais rudimentares e comuns – já
estava bem estabelecida antes que ele contribuísse para seu
aprimoramento. Seu grande aditamento, a doutrina da seleção natural
ou ¨da sobrevivência dos mais aptos¨, nunca pretendeu ser uma
explicação total de como funciona a evolução e era desconsiderada
por alguns dos seus mais próximos defensores. Thomas Huxley, por
exemplo, que foi reconhecido, com razão, como porta voz do
darwinismo e que preferia um macaco a um bispo como remoto
progenitor, nunca acreditou na seleção natural. O próprio Darwin
nem sempre lhe foi fiel, às vezes preferindo a ¨seleção sexual¨
- a eliminação de tipos não favorecidos na luta pelo acasalamento
– como o ¨principal agente¨ da mudança evolutiva. Teorias
evolucionistas estavam, por assim dizer, no ar do seu tempo – como
a ¨chave de todas as mitologias¨ de Casaubon e a da ¨busca da base
comum de todos os tecidos vivos¨, de Lydgate. Outros pesquisadores
estavam na pista da seleção natural ou tinham esboçado a idéia
quando Darwin publicou sua teoria. Ele foi menos importante como
pensador original do que como divulgador convincente.
A
imagem de Darwin, projetada por seus amigos e família, como
personificação da filantropia vitoriana e da caridade natural, era
um truque de propaganda, uma promessa de campanha de um candidato à
veneração como herói, uma dessas promessas que se cumprem ao
olvidá-las. Apesar de sua grande riqueza, era prudente com ela ao
ponto de parecer avarento...
A
ciência de Darwin também não foi menos politicamente apaixonada,
nem menos desinteressada do que qualquer outra. Foi um produto de
sua época e das circunstâncias e serviu aos interesses de uma raça
e classe particulares. Não havia uma linha divisória clara
entre darwinismo ¨científico¨ e darwinismo ¨social¨...
A
saúde precária o torturava, muitas vezes sofria dores e tinha
acessos de vômitos que por vezes duravam semanas e era perturbado
pela angústia com a fraqueza e vulnerabilidade de seus próprios
filhos. Seu interesse pela procriação científica e pela
sobrevivência dos mais aptos era um eco evidente de sua própria
situação. Sua convicção da unidade da criação era, em parte,
resultado da observação social: seu desprezo pelos selvagens da
Terra do Fogo, que encontrou na viagem do Beagle, o persuadiu de que
o homem não civilizado era simplesmente um animal saído de uma
bifurcação do tronco comum. O artista oficial do Beagle desenhou os
nativos com realismo deprimente: peludos e com traços simiescos, com
pernas tortas, joelhos para dentro, acabrunhados, o epítome de uma
ignóbil selvageria.
À
medida que seu trabalho avançava, Darwin se empenhava cada vez mais
na busca de uma teoria que explicasse a evolução das estruturas
sociais, as maneiras, a moral e as propriedades da alma – incluindo
consciência e vergonha, frutos humanos da macieira do Éden. ¨Oh!
seu materialista¨ censurava-se a si mesmo: em parte porque, tendo
perdido a fé num acesso de amargura, quando morreu a filha muito
amada, quis eliminar a Providência tanto da história quanto da
criação; em parte, também, devido à influência, ante seus
olhos, de um modelo de mundo competitivo e de uma sociedade de
emulação, que selecionava categorias e raças, exatamente como a
brutal e bela justiça da natureza selecionava espécies.
Refletindo sobre suas anotações
a bordo do Beagle, em 1839, Darwin traçou o paralelo explícito.
¨Quando duas raças de homens se encontram, atuam exatamente como
duas espécies de animais. Lutam, devoram-se mutualmente. (...) Mas
logo vem a luta mais mortal, isto é, a de quem tem a organização
mais apta ou instintos (ou seja, a inteligência, no homem) mais
aptos para vencer.¨ Os negros, especulava, teriam evoluído para uma
espécie distinta, se o imperialismo não tivesse posto fim ao seu
isolamento. Como estavam as coisas, achavam-se condenados à
extinção.
A
intervalos, repetiu quase exatamente as mesmas opiniões até 1881, o
ano anterior à sua morte. Embora Darwin não tomasse a iniciativa de
aplicar a teoria da seleção natural à justificação do racismo e
do imperialismo, cooperou com os esforços de muitos contemporâneos
seus que o fizeram. Os britânicos, que triunfaram numa espantosa
variedade de ambientes, pareciam escolhidos pela Natureza e testados
na luta, como antigamente os judeus pareceram escolhidos por Deus e
testados na fé. Era, portanto, adequado que, apesar de sua
apostasia, Darwin fosse sepultado na Abadia de Westminster, o panteão
dos espécimes da superioridade britânica.
No
mesmo ano da morte de Darwin, morreu o conde de Gobineau, que –
baseando-se mais no que então começava a ser chamado de
antropologia do que na biologia – tinha estabelecido uma graduação
das raças humanas na qual os arianos estavam no topo e os negros na
base. Dois anos depois morria Gregor Mendel, o monge austríaco cujas
experiências com ervilhas assentaram os fundamentos da ciência da
genética. As implicações de seu trabalho não foram levadas
adiante até o final do século, mas quando isso foi feito, ajudaram
a completar a tendência para a qual Darwin e Gobineau tinham
contribuído: entre os resultados, o mais influente socialmente foi a
base científica sobra a qual, em combinação com os efeitos
do darwinismo, o racismo parecia descansar.
A
genética proporcionava a explicação de como um homem podia ser,
inerente e necessariamente, inferior a outro em razão apenas da
raça. A antropologia dos sábios na tradição de Gobineau fornecia
o que passava por prova. Darwin ajudou a proporcionar uma
justificação para a submissão de raças naturalmente inferiores às
mais bem adaptadas. Como conseqüência parcial, a primeira metade do
século XX foi uma época de impérios seguros de si mesmos, uma
época em que se podia fazer os críticos do imperialismo parecerem
sentimentais ou anticientíficos, num mundo cortado pela espada em
fatias, empilhadas em ordem de raças.
Nenhuma época anterior conseguia
formular doutrinas racistas de modo tão completo ou tão
convincente. Os impérios do início da era moderna tinham sido
construídos com teorias muito menos abrangentes... Agora, exatamente
quando o poder branco atingira seu ponto mais penetrante e difuso, a
teoria científica ajudava a impô-lo nas metrópoles coloniais. Os
imperialistas do Ocidente branco podiam enfrentar com confiança o
resto do mundo.
Pode-se objetar que o racismo, de
uma forma ou de outra, é antigo e onipresente: dizem que a maioria
das línguas humanas não tem um termo para ¨ser humano¨, exceto o
que denota particularmente os membros de uma tribo ou grupo; que a
identidade sempre foi alimentada pelo ódio de aos de fora; que o
desprezo é um mecanismo comum de defesa contra o forasteiro; que o
que o século XIX chamou de ¨raça¨ fora encoberto, em épocas
anteriores, pelo discurso de ¨linhagem¨ ou ¨pureza do sangue¨.
Contudo, as concepções do imperialismo moderno eram singularmente
arrogantes...
*grifos
nossos
*Milênio – Felipe Fernández-Armesto
Bill
Gates
Palestra
proferida em uma escola secundária americana atribuída a Bill Gates
1_
A vida não é fácil. Acostume-se com isso.
2_
O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo
espera que você faça alguma coisa útil por ele antes de você
sentir-se bem com você mesmo.
3_
Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da
escola. Você não será vice-presidente com carro e telefone à
disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio
carro e telefone.
4_
Se você achao seu professor rude, espere até ter um chefe.
Ele não terá pena de você.
5_
Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo
da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente
para isso: eles chamam de oportunidade.
6_
Se você fracassar, não é culpa dos seus pais. Então não lamente
seus erros, aprenda com eles.
7_
Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora,
eles só ficaram assim por pagarem as suas contas, lavarem as suas
roupas e ouvirem você dizer que eles são ¨ridículos¨. Então
antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo
consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu
próprio quarto.
8_
Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e
perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você
não repete mais de ano e tem tantas chances que precisar até
acertar. Isso não se parece com absolutamente nada na vida real.
Se pisar na bola está perdido...rua! Faça certo da primeira vez!
9_
A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os
verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a
cumprir suas tarefas no fim do período.
10_Televisão não é vida real.
Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir
trabalhar.
11_Seja legal com os CDFs
(aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas).
Existe uma grande possibilidade de você vir a trabalhar para um
deles.
*grifos
nossos
Incubadora da competição, do bullying e do individualismo. Negação desde o berçário da compaixão e da camaradagem, esta palestra é algo assim como a liturgia do capitalismo. O seu terço, rosário e mantra.
GuerraSanta
(...a...). Massacre
de Siquém (...).Guerra
de Lagash
contra
Umma (2525 a.C.).
Invasões
dos Assírios na
Mesopotâmia (1300
a.C. a 630 a.C.). Batalha
de Kadesh
(1294 a.C.). Guerra
de Tróia
(1250 a.C. até 1240 a.C.). Primeira Batalha
Naval - Hititas
versus
Chipre - (1210 a.C).
GuerrasGreco-Persas
(500 a.C. até 448 a.C.). GuerrasMédicas
(490 a.C. até 479 a.C.). Guerra
do Peloponeso
(431 a.C. a 404 a.C.). Batalha
de Leuctra
(371 a.C.). Guerra:
Samnitas versus Samnium
(343 a.C. a 290 a.C.).
Guerras
de Alexandre, O Grande
(334 a.C. – 323 a.C.). Batalha
de Issus
(333 a.C.). Batalha de
Arbela
(331 a.C.). Primeira GuerraPúnica
(264 a.C. até 241 a.C.). Segunda GuerraPúnica
(218 a.C. até 201 a.C.). GuerrasMacedônicas
(215 a 168 a.C.). Batalha
de Pidna
(168 a.C.). Terceira GuerraPúnica
(149 a.C. até 146 a.C.). GuerrasRomano-Persas
(92 a.C. até 627 d.C.). GuerraSocial
contra os Aliados
Latinos (91 a.C. a 88
a.C.). Guerra
Civilde
Sulla (82 a 81 a.C.).
GuerrasGálicas
(58 a.C. a 50 a.C.). Guerra
do Primeiro Triunvirato
(50 a.C. – 45 a.C.). Guerra
Civilde
Júlio César (49 a.C.
até 45 a.C.). InvasãoRomana
das Ilhas Britânicas
(43 a.C.). Guerra
do Segundo Triunvirato
(32 a.C. a 31 a.C.). GuerrasJudaico-Romanas
(séc. II e III). Massacre
de Medina
(213 d.C.) Guerra
dos Três Reinos na
China (220 até 265
d.C.). Guerra
dos Oito Príncipes na
China (291 a 306).
Batalha
de Adrianópolis
(378 d.C.). Batalha
de Chalons-sur-Marne
(451 d.C.). GuerraGoguryeo-Sui
(598- 614). Batalha de
Badr
(séc. VII). Batalhas
de Meca e
Medina (627 a 630
d.C.). Batalha
de Dunnichen
(685). ConquistaÁrabe da
Espanha (711 – 718).
Batalha
e cercode
Constantinopla (717 –
718). Batalha
de Tours
(732). Batalha
de Poitiers
(740). Guerra
Civil Árabe
(750). Conquistas
de Carlos Magno
(771 a 814 d.C.). InvasõesEscandinavas na
Europa (800 até 1016
d.C.). Guerra
Civil Muçulmana
(1009). Invasão
da Índia por
Mahmud (1019). Batalha
de Mastings
(1066 d.C.). ConquistaRomana da
Inglaterra (1066).
Cruzadas
(1096 a 1291): 1ª: 1096 a 1099; 2ª: 1147 a 1149; 3ª: 1187 a 1191;
4ª: 1202 a 1204; Cruzada
contra os Cátaros:
1209 a 1229; 5ª: 1217 a 1221; 6ª: 1228; 7ª: 1248 a 1254; 8ª:
1270; 9ª Cruzada:
1271 a 1291. Batalha
e cerco de Jerusalém
(1099). Guerra Civil
Inglesa (1139 a 1153).
Guerra
da Barba
(1152 até 1453). Batalha
dos Chifres de Mattin
(1187 d.C.). Conquistas
de Gêngis Khan
(1206 a 1227). InvasãoMongol da
Rússia (1223 até
1240). InvasãoMongol da
Bulgária (1236 a
1237). InvasãoMongol da Europa
(1241). Primeira Guerra
da Independência da
Escócia (1296 –
1328). Invasão da
Síria, da
Índia e conquista
do Irã
por Tamerlão (séc.
XIV). Segunda Guerra
da Independência da
Escócia (1332 até
1333). Guerra
dos Cem anos
(1337 até 1453). Guerra
da Sucessão
da Bretanha (1341 a
1364). GuerraTokhtamysh - Tamerlão
(1385 – 1399).
GuerrasHussitas
(1420 a 1436). Batalha
e Cerco de
Constantinopla (1453).
Guerra dos
Treze Anos
– entre a Polônia e
os Cavaleiros
Teutônicos (1454 a
1466). Guerra
das Rosas
(1455 a 1485). Batalha
e Cerco de
Granada (1491-1492).
Conquista
da América Espanhola*mais
de 25.000.000
de mortos
nos primeiros 30 anos*
(1492 – 1560). GuerrasItalianas (1494
até 1559). Descoberta e Invasão
do Brasil
(1500 a 1822). Ocupação
da Hungria pelos
Turcos (séc. XVI).
Batalha
e Cerco de
Tenochtitlán –
cidade do México - (1521 a 1522). Guerra
da Libertação da
Suécia (1521 –
1523). Invasão
da Índia por
Baber (1525 até o
séc. XVIII). Batalha
de Cajamarca
(1532). Conquista
Espanhola de
Yucatán
(1540). InvasãoFrancesa
no Brasil
(1555 a 1567). Guerra
dos Aimorés
(1555 até 1673). Confederação
dos Tamoios
(1556/1567). GuerrasReligiosas Francesas
(1562 a 1593). GuerraNórdica dos
Sete Anos (1563 –
1570). Guerra
dos Oitenta Anos
(1568 – 1648). Invasão
de Portugal pela
Espanha (1580).
Guerras
da Espanha
versus Inglaterra
(1580 até 1603). Guerra
dos Potiguares
(1586 – 1599). GenocídioIndígena nos
EUA*mais
de 20.000.000 de
mortos*
(Séculos XVII, XVIII
e XIX). Guerra Luso –
Neerlandesa (1588 até
1654). Guerra
dos Trinta Anos
(1618 a 1648). InvasõesHolandesas
no Brasil
(1624 até 1654). Guerra
da Restauração
(1640 – 1668). GuerrasConfederadas Irlandesas
(1641 a 1653). Guerra
Civil Inglesa (1642
a 1651). Rebelião
de Chmielnicki (1648
a 1654). GuerraHolandeses-Macássar
(1652 até 1669).
GuerrasAnglo-Holandesas
(1652 até 1784). Guerra
Russo-Polaca (1654 –
1656). GuerraSueco-Brandenburg (1655
a 1656). GuerraSueco-Polaca
(1655 – 1660). GuerraRusso-Sueca
(1656 até 1658). GuerraSueco-Dinamarquesa
(1656 a 1660). GuerraSueco-Holandesa
(1657 a 1660). GuerraRusso-Polaca
(1658 – 1667). Revolta
da Cachaça (1660
a 1661). Conjuração
do Nosso Pai
(1666). Grande GuerraTurca
(1667 – 1683). Guerra
da Santa Liga
(1683 até 1699). Guerra
dos Bárbaros
ou Confederação
dos Cariris
(1683 a 1713). Revolta
de Beckman
(1684). Guerra
dos Palmares (XVII a XVIII). GrandeGuerra
do Norte (1700 – 1721). Guerra
da SucessãoEspanhola
(1701 até 1714). Guerra
dos Emboabas
(1708 – 1709).
Revolta do Sal
(1710). Guerra
dos Mascates
(1710 – 1711). Motins
do Maneta
(1711). Revolta
de ManduLadino
(1712 – 1719). Revolta
de Felipe
dos Santos
(1720). GuerraRusso-Persa
(1722 – 1723). Guerra
dos Manaus
(1723 a 1728). Guerra
da Sucessão
da Polônia
(1733 a 1738). Guerra
de Sucessão
da Áustria
(1740 – 1748). GuerraGuaranítica
(1754 a 1756). Guerra
dos SeteAnos
(1756 até 1763). Guerra
da Independência
dos EstadosUnidos
da América
(1775 a 1783). RebeliãoTúpacAmaru
(1780). ConspiraçãoInconfidênciaMineira
(1789). Guerras
da RevoluçãoFrancesa
(1793 a 1799). ConjuraçãoCarioca
(1794 a 1795). Revolta
dos Alfaiates
ou ConjuraçãoBaiana
(1798). Batalha
do Nilo (1798). Conspiração
dos Suassunas
(1801). GuerrasNapoleônicas
(1803 a 1815). Guerra
da IndependênciaEspanhola
(1804 até 1814). Batalha
de Trafalgar
(1805). GuerraPeninsular
(1807 – 1814). Guerra
de Independência
da Bolívia
(1809 a 1825). Guerra
da Independência
da Argentina
(1810 até 1816). Batalha
de Waterloo
(1815). Guerra
contra Artigas
(1816 – 1820). Guerra
da Independência
do Chile
(1817 a 1818). CicloRevolucionário
de 1820. Guerra
da Independência
do Peru
(1820 – 1825). Guerra
da Independência
do México
(1821 até 1823). Guerra
da Independência
da Grécia
(1821 – 1832). Guerra
da Independência
do Brasil
(1822 a 1823). Batalha do Jenipapo (1823). Confederação
do Equador
(1823 a 1824). Guerra
da Cisplatina
(1825 a 1828). Revolta
dos Mercenários
(1828). Revoluções
de 1830 na Europa.
ConquistaFrancesa
da Argélia
(1830 – 1847). Noite das Garrafadas
(1831). Insurreição
da
Cabanada (1832 a
1835). RevoltaFederação
dos Guanais
(1832). Insurreição
da Cabanagem
(1834 a 1840). Revolta
dos Malês
(1835). Guerra
dos Farrapos
ou RevoluçãoFarroupilha
(1835 até 1845). InsurreiçãoSabinada
(1837 a 1838). GuerraEUA
x México
(1848). InsurreiçãoBalaiada
(1838 a 1840). Primeira Guerra
do Ópio
(1839 a 1842). Primeira GuerraAfegã
(1839 – 1842). Batalha
de Chapultepec
(1847). Guerra EUA
x México
(1848). Revoluções
de 1848 na Europa.
RevoluçãoPraieira
(1848 a 1849). RebeliãoTaiping*entre
20 e
40 milhões de mortos*
(1850 a 1864). RebeliãoNien
(1851 a 1868). Guerra
dos Marimbondos
(1852). Guerra da
Criméia
(1853 até 1856). RebeliãoMiao
(1854 – 1873). Guerras
do ClãPunti-Hakka
(1855 – 1867). Segunda Guerra
do Ópio
(1856 – 1860). Revolta
dos Panthay
(1856 a 1873). Guerra
do Marrocos
(1859). Guerra
da IndependênciaItaliana
(1859 a 1860). Guerra
dos ÍndiosAmericanos
(1860 – 1890). GuerraCivilAmericana
(1861 a 1865). RevoltaDungan
(1862 até 1877). Guerra
do Paraguai
(1864 a 1870). GuerraAustro-Prussiana
(1866). Guerra
Boshin (1868 a 1869). GuerraFranco-Prussiana
(1870 a 1871). Revolta
dos Quebra-Quilos (1874 a 1875). Motim
das Mulheres
(1875). Segunda GuerraAfegã
(1878 – 1880). GuerraAnglo-Zulu
(1879). Guerra
do Pacífico
(1879 a 1883). ConflitoIsrael-Palestina
(1890 a...). Revolta
da Armada
(1893 – 1894). Guerra
do Rife
(1893 a 1926). GuerraHispano-Americana
(1898). Batalha
de SanJuan
(1898). GuerraAcreana
(1898 a 1903). Revolta
da Vacina
(1904). GuerraRusso-Japonesa
(1904 a 1905). Genocídio Namíbio (1904 a 1907). Revolta
da Chibata
(1910). GuerrasBalcânicas
(1912 – 1913). Guerra
do Contestado
(1912 até 1916). Primeira
Guerra Mundial *30.000.000
de mortos*
(1914 a 1918).
GenocídioAssírio
(1914 – 1920). GenocídioArmênio
(1915 a 1917). RevoluçãoRussa
(1917). Guerra
da Independência
da Irlanda
(1919 a 1921). GuerraCivil
e RevoluçãoComunista
da China
(1930 até 1949). Revolução
de 1930-Brasil.
RevoluçãoConstitucionalista
(1932). Guerra
do Chaco
(1932 até 1935).
IntentonaComunista
(1935). GuerraÍtalo-Etíope
(1935 – 1936). GuerraCivilEspanhola
(1936 a 1939). Massacre
de Nanquim
*mais de 150.000
mortos*
(1937/1938). GuerraSino-Japonesa
(1937 a 1945). Segunda
Guerra Mundial *45.000.000
de mortos*
(1939 a 1945).
Deportados por
Stalin para a Sibéria
*3.300.000 pessoas*
(1941 a 1949). Revoluções
no Irã
(1941, 1953 e 1979). GuerraFria
(1945 – 1990). Guerra
da Indochina
(1946 a 1954). GuerraCivilIndiana
e GuerraPaquistão
x Índia
(1947 – 1948). Guerra
da IndependênciaIsraelense
(1948 – 1949). Guerra
da Coréia
(1950 a 1953). RevoluçãoCubana
(1956 a 1959). Guerra
do Vietnã
(1962 a 1975). GuerraSino-Indiana
(1962). Guerra
de Independência
de Angola
(1962 a 1974). Guerra
de Shifta
(1963 a 1967). Guerra
de Independência da Guiné-Bissau
(1963 até 1974). Revolução
de Zanzibar
(1964). GolpeMilitar
no Brasil
(1964 a 1985). GuerraIndo-Paquistanesa
(1965 a 1971). Guerra
Civil no Chade
(1965 até 1982 e 1998 a 2002). Guerra
dos SeisDias
(1967). Atentado
da PiazzaFontana
(1969). Golpe
de Estado em Uganda
(1971). Batalha
no Canal
de Suez
(1973). Guerra
de Yom Kipur
(1973). GenocídioCambojano*mais
de 2.000.000 de
mortos*
(1975 a 1979). Guerra
Civil do Líbano
(1975 – 1990). Guerra
Civil Angolana
(1975 – 2002). Golpe
de Estado no Paquistão
(1977). GuerraLíbia-Egito
(1977). Guerra
Uganda-Tanzânia
(1978 – 1979). GuerraLíbia-Chade
(1978 – 1987). RevoluçãoSandinista
na Nicarágua
(1979). InvasãoSoviética
do Afeganistão
(1979 até 1989). GuerraCivilAfegã
(1979 até 1989). GuerraIrã-Iraque
*mais de 1.000.000
de mortos*
(1980 – 1988). Guerra
das Malvinas
(1982). Revolução
na Somália
(1986 a 1992). Massacre
do Capacete
ou Massacre
dos Ticunas
(1988). Guerra
do GolfoPérsico
(1990 a 1991). GuerraCivil
da Somália
(1991 a...). GuerraCivil
da Bósnia
(1992 – 1995). GuerraCivil
da Argélia
(1992 até 2002). Genocídio
em Ruanda*800.000
mortos*
(1994). Guerra
de Kosovo
(1998 a 1999). Guerra
de Kargil
(1999). Guerra
do Iraque
(2003 a 2010). Revolução
de Jasmim
(2010 a 2011)Periferia x Centro.
Sul contra o Norte. Esquerda x Direita.
Hetero x Homo. Morro contra Asfalto.
Rico contra Pobre. Leste x Oeste...Guerra Santa(... a...).
O que sempre nos fascina ao
encontrarmos com uma pessoa compulsiva é essa forma de ser tão
distinta, tão impenetrada e talvez impenetrável. Setenta anos de
trabalho clínico e de investigação científica não alteraram essa
impressão.... Esta curiosidade intrigante nos impulsiona
constantemente no afã de penetrar nos segredos desse mundo em que
vive o compulsivo; pois este nosso mundo, no qual ele se encontra,
não parece pertencer-lhe...
Nossa investigação se concentra na pessoa compulsiva considerada em sua totalidade e principalmente em sua forma especial de existir, que se situa em um mundo específico de ser diferente do nosso...
II.
Um Caso Histórico
Como base para nossas
considerações vamos tomar um caso clínico... Vou apresentar muito
sucintamente o seguinte caso histórico, com o único fim de
apresentar uma base sólida e clara para as considerações que vamos
fazer. Nosso caso é representativo do ‘psicopata anankástico’.
O psicopata anankastico (A palavra ‘anankástico’ é derivada do
grego ‘ananke’ - força e fatalidade – e significa ver-se
arrastado pelo destino, sentir sua inevitabilidade e a
impossibilidade de se escapar dele, como o experimentam
subjetivamente estes pacientes; e o termo psicopata tem aqui um
sentido que se restringe aos elementos psicopatológicos de tais
pacientes). O compulsivo anankástico representa o tipo no qual os
fenômenos de compulsão alcançam seu grau máximo de
desenvolvimento sistemático...
Caso
H.H
O paciente tem dezessete anos; dá impressão de timidez, embaraço, abatimento, introversão e inibição. Inteligente e ambicioso. Havia sido anteriormente o primeiro de sua classe e aprendia sem esforço. Teve que deixar o colégio em agosto de 1937 por fracasso total...
Queixa-se de compulsões. Para ele tudo é compulsão; não se vê livre nem por um segundo. Deseja intensamente liberar-se do seu sofrimento, mas não acredita em sua cura. Considera seu caso único. Esteve sofrendo compulsões durante oito anos sem saber o que o estava incomodando; se considerava normal. Desde sua primeira confissão nunca a considerou válida, porque, apesar de seus prolongados esforços durante horas, nunca conseguiu encontrar o “verdadeiro arrependimento”. A ansiedade o torturava em relação a certos votos. Ao recitar a saudação evangélica sentia que devia visualizar cada letra; ao não consegui-lo, cometia ¨pecado mortal¨. Comprometeu-se a fazê-lo a todo custo e como não obtinha êxito, quebrava um voto, um juramento, e tinha, então, que confessar ter perjurado 150 vezes. Por motivo da repetição da oração penitencial, surgiu a compulsão de contar. Quando um menino da escola proferia alguma palavra obscena em sua presença, ele a ouvia, e ao ouvi-la pensava, e ao pensá-la fazia; já que toda audição implica o pensamento correspondente, e todo pensamento é por si mesmo um ato. Escrúpulos muito agudos...
Aos doze anos, na manhã
seguinte à sua primeira polução noturna, pensou ter molhado os
lençóis, sentiu um forte cheiro e constatou que seu pênis estava
úmido. A partir de então, nota que sua urina goteja, passa horas
esperando que seque completamente e, ainda, envolve o pênis com
papel higiênico a fim de que não lhe suje as roupas. Apesar desses
cuidados, desenvolve um odor que o domina por todo o dia. Está
sempre obcecado com o pensamento de cheirar mal. Mesmo estando a sós,
essa sensação o tortura a ponto de impedi-lo de fazer as coisas
mais simples, como usar o telefone. Por causa desse mesmo odor que
ele considera objetivo, mostra-se mais tímido e inibido. Em geral, todos os seus atos estão governados por compulsões. Começam pela manhã quando se levanta... Cada ação é dividida em seus últimos e mínimos detalhes, executadas com exatidão e com a máxima atenção. Tudo é ordenado e planificado: levantar-se, banhar-se, secar-se, vestir-se. Primeiro esse movimento, seguido do outro, e do próximo e do seguinte sempre na mesma sequência. Com freqüência tem que permanecer de pé com os braços levantados, empunhando sua esponja antes de seguir em frente. Logo deve estar de pé novamente e voltar a pensar cada detalhe mais uma vez, especialmente se tem a impressão de não ter realizado cada ato com perfeição, sem distração e com plena consciência de cada um deles. Toda esta recapitulação se produz, sobretudo depois de alguma perturbação ou omissão no cumprimento do seu cerimonial. Sua “toalete” dura horas, na realidade nunca termina, e sempre chega atrasado a todos os lugares. Por isso, tem uma “consciência culpada”. Esta compulsão pela ordem se impõe em tudo: no modo de comer, entrar e sair pelas portas (onde não pode encostar-se em nada), roupas e nos incontáveis objetos que toca...
Nunca goza de um momento de paz; sempre resta algo para analisar ou inspecionar ou recapitular ou repetir ou lavar, e em tudo o persegue o odor nauseabundo de seu corpo, o que é o mais torturante de todo o resto. Vive deprimido, sem esperança, e pensa que indivíduos como ele, se deixados a si mesmos, morreriam de fome. Não tem vida sexual.
III. Aspectos Perturbadores
na Síndrome Compulsiva
¨A Fobia Anankástica“
Nossos anancásticos crônicos confirmam plenamente a dupla natureza da síndrome compulsiva tal como se a conhece nos círculos psiquiátricos. Primeiro: o ¨psiquismo perturbador¨ que geralmente adota a forma de fobia e, como reação a este, o ¨psiquismo defensivo¨ que pertence os atos compulsivos mais destacados... Ao distinguirmos entre fobia anankástica e psiquismo defensivo, só o fazemos por amor à ordem, mas sabendo que ambos os elementos na personalidade anankástica em sua relação com o mundo formam um todo em que as sucessões de seus componentes se intercambiam.
A
Ilusão de um Odor Fóbico
No centro da enfermidade compulsiva de H.H. se destaca com os rasgos inegáveis do ¨psiquismo perturbador¨ a obsessão de um cheiro corporal ilusório. Originado em sua primeira ejaculação espontânea e desde então se instalou de uma maneira totalmente coerente (coerente com referência à direção vital regressiva do anankástico) no sistema urinário e excretor... Este caso pode figurar como modelo das perturbações anankásticas da volição. De ordinário, leva horas o processo de limpeza depois de cada eliminação, e apesar disso, o pênis continua úmido, sujo, e consequentemente, capaz de manchar suas vestes na forma de um odor repulsivo. Vemos aqui uma dificuldade bastante notável em realizar e concluir determinadas operações; se comprova uma total incapacidade para executar el acte de terminaison (Janet)...O mesmo processo de eliminação e limpeza sujam também, e a sua sujeira se propaga, no espaço (na roupa) e no tempo (perdurando todo o dia). Desde agora todas as situações da vida servem somente como ocasião para realizar a obsessão... O dar-se conta de um odor nauseabundo sempre é perturbador por natureza. Implica sentimentos de sofrimento, aversão, vergonha, repugnância. Fica claro o caráter reflexivo da reação de repugnância fóbica. Esta vem obstaculizar em geral todo ato normal, toda ocupação normal, todo contato normal com as pessoas; terminando por isolar totalmente o paciente.
Vimos que a ilusão do odor fóbico está intimamente ligada à incapacidade de dar por terminada uma coisa, especialmente em dar por terminada a limpeza corporal. A persistência do odor de urina é o reverso da impotência de voltar-se às tarefas diárias, e almejar novas metas. Todos os problemas que traz consigo ficam sem resposta adequada e como reação ante esta inibição, volta-se reflexivamente à sua preocupação com o desagradável cheiro ilusório, como para formar, por assim dizer, um contínuo homogêneo com que preencher o tempo que se vai transcorrendo. H.H. sente-se ¨grudado¨ a esse odor, expressando assim com propriedade a idéia de que a persistência de seu cheiro corporal é o símbolo de haver-se paralisado (emaranhado) no passado às custas do futuro, o qual, por sua vez, está representado nas tarefas que vão se apresentando...A incapacidade de concentrar sua energia na realização do seu desenvolvimento pessoal e no cumprimento de seus deveres é que constitui seu transtorno real, relacionado, talvez, com a inibição depressiva endógena. Em todo caso, está patente aí o propósito de cegar o manancial da vida, com o que se impede sua temporalização. Bloqueia-se o devir e fixa-se o passado. Esta fixação pode experimentar-se como uma polução, que se traduz no homem na experiência desse odor corporal gerador de ansiedade. Pois não se trata em absoluto de um odor real ou de uma sujeira efetiva; mas são ambos símbolos de uma vida privada de uma das possibilidades de purificação, como seria sua orientação voltada para o futuro. Assim vemos que o paciente compulsivo faz o que não pretende fazer, e não pode fazer o que pretende. A falta de liberdade patente na conduta do compulsivo pertence à essência de sua situação.
IV. O Aspecto Defensivo da
Síndrome compulsiva e a Natureza da Compulsão
O caso de H.H. apresenta outro aspecto instrutivo. Como muitos anankásticos, sofre de um transtorno na capacidade de trabalhar, que se revela especialmente como uma dificuldade para empreender algo novo e para concluir o iniciado... Produz-se uma ruptura entre a ação e a realização; isto se traduz em atitudes grotescas, como quando H.H. permanece parado em sua casa vestido com sua jaqueta, mas não pode sair, pois não tem certeza se está, ou não,
com ela... A pessoa, em sua qualidade de ser vivente que avança até o futuro, não entra na execução objetiva de sua ação, e por isso, depois de realizada está exposta à dúvida de sua execução ou não...
Normalmente a vida se purifica mediante sua entrega generosa às forças do futuro e às tarefas que este convida. Ao frear e inibir sua marcha até sua auto-realização o indivíduo se cega ao manancial profundo de sua capacidade de vir a ser e de pagar assim a dívida de sua existência. Surge nele, então, um sentimento vago de culpabilidade, tal como vemos às vezes nos melancólicos inibidos. Esse sentimento de culpabilidade se concretiza nestes últimos na forma de auto-reprovação que pode resultar em manias incorrigíveis por estarem alimentadas pela inibição generalizada da capacidade do devir.
O sentimento de encontrar-se sujo poderia ser somente uma forma particular do complexo de culpabilidade no qual a vida inibida se dá conta indiretamente de seu estancamento. Non elevari est labi (Não levantar significa cair): assim parafraseia Franz Von Bader os ditos populares: ¨A ferramenta que não trabalha cria ferrugem¨, ¨Não ir adiante é voltar atrás¨, ou ainda: ¨A água que não corre forma um pântano; a mente que não trabalha forma um tonto¨ (V. Hugo).
O que revela a preocupação anankastica pela sensação de sujeira é a culpa de não livrar-se do passado. É preciso deixar cair o passado como o excremento; assim a vida sadia que aponta ao futuro vai soltando constantemente o passado, deixando-o para trás, eliminando-o e limpando-se dele. O compulsivo não toma o passado como um tempo pretérito – pretérito perfeito – (¨colado¨ ao passado, dizia H.H. de si mesmo); desse modo, não pode eliminá-lo, nem deixá-lo para trás, pois isso exigiria sua abertura ao futuro. Algo sem terminar pressiona e reclama a atenção do compulsivo, como reclama o futuro as energias e o entusiasmo da pessoa sadia. Assim sendo, o anankástico não só não avança em suas posições, mas ainda se vê invadido pelo passado através dos símbolos do impuro, manchado e morto... Ameaça com imundície e putrefação: símbolos todos de uma tendência nociva à personalidade, a seus valores, sua beleza e a sua perfeição...
¨Enquanto a carroça avança, as abóboras se acomodam.¨
*Grifos
nossos;
* Breve resumo de um trecho do ensaio: El Mundo de los Compulsivos - V. E. Gebsattel;
*Livro: Existencia - Nueva Dimensión En Psiquiatría Y Psicología; *Rollo May;
Ernest Angel, Henry F. Ellenberger (eds). Madrid, Editorial
Gredos S.A.